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Se você tem uma conta de email há algum tempo, há grandes chances de você já ter recebido um email – provavelmente de alguém de outro país – falando sobre algum tipo de problema enfrentado pelo remetente, e que sempre é concluído com um pedido de ajuda que envolve dinheiro. Ah, e se você nunca recebeu um desses, não se preocupe. Um dia ele chega.

Tendo você ou não experiência com essa fraude, vale lembrar que esse popular golpe via email frequentemente é motivo de piada e também de matérias jornalísticas. Afinal, não importa o quanto as pessoas sejam avisadas, ainda tem quem caia nessa história.

E, falando em história, o golpe do “príncipe nigeriano”, “prisioneiro espanhol” ou ainda do “herdeiro” não são novidades da era da internet, mas têm uma história longa, que chega a se estender por séculos.

De certa maneira, ele lembra um pouco outros golpes frequentes, como a pessoa que por alguma razão segura um cheque em um valor alto (pode ser também um “bilhete premiado” de loteria) para alguém que nunca viu na vida e, em troca da confiança, dá ao golpista um valor em dinheiro. Basicamente, quem cai nessas histórias costuma ser traído pelo desejo de ganhar uma graninha.

O email é apenas uma variação de um golpe que começou com o equivalente analógico, a carta. Nela, o remetente conta que tem direito a uma grande soma de dinheiro e precisa da sua ajuda para reaver esta quantia. Se você ajudá-lo, obviamente você será recompensado.

Caso a conversa siga em frente, o remetente explica que ele precisa de um pequeno empréstimo para tomar as providências para reaver o tal dinheiro. De repente, começam a surgir obstáculos e mais dinheiro é pedido. E tem mais: muitas vezes a conversa evolui de uma forma que, sem perceber, a vítima fornece inúmeros dados que permitem ao golpista invadir a conta.

Alguns pesquisadores acreditam que este golpe tem mais de mil anos e já encontraram evidências que justifiquem essa hipótese.

Em 1898, por exemplo, a variação da chamada “fraude da taxa antecipada” tinha como personagem principal um prisioneiro espanhol. Na carta, ele falava sobre conhecer as referências da honestidade do destinatário. “Minha triste situação me compele a revelar a você uma importante questão na qual você pode adquirir uma pequena fortuna, ao mesmo tempo poupando minha querida filha”, dizia um trecho.

solovieffkeppleletter

A carta que você vê acima data de 1914, e mostra como os golpistas eram cuidadosos ao enviarem as cartas, com uma letra bem desenhada e uma história emocionante de um certo Serge Solovieff, um banqueiro russo preso que precisa de ajuda para recuperar um dinheiro que ele escondeu nos Estados Unidos. No envelope, havia também a cópia de um jornal relatando a prisão do Solovieff.

Serge Solovieff realmente existe, mas nunca enviou esse tipo de carta a ninguém, apesar de centenas de pessoas terem recebido este tipo de “spam”. Em uma matéria publicada no The New York Times em 1898, o jornal alerta para a fraude que tem sido praticada “ha mais de 30 anos”.

Antes disso, em 1832, o criminoso que virou detetive particular Eugène François Vidocq já alertava para o golpe. “Prisioneiros obtêm o endereço de certas pessoas ricas e escrevem cartas para eles – correspondência apelidada de Cartas de Jerusalém”. E daí é senta que lá vem histórias fantásticas, que sempre acabam com a solicitação de dinheiro.

Segundo Vidocq, as cartas contavam com uma taxa de resposta de 20%.

E se é tão óbvio que é uma fraude, por que as pessoas continuam tentando aplicar este golpe? A resposta é simples: vai que uma hora funciona. E sim, funciona.

Afinal, apesar de toda informação disponível na internet, os golpistas continuam encontrando vítimas perfeitas por aí. Ou você duvida disso?